Mulheres canedenses, mobilizai-vos Elas já são maioria, ao menos em termos populacionais, mas ainda estão longe de ocupar a metade dos espaços de poder em um dos mais prósperos municípios de Goiás. As mulheres canedenses, que em 2010 cravaram a virada numérica sobre os homens, são minoria no mercado de trabalho local e, não bastasse a falta de oportunidades, ainda ganham menos. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, na ocasião do primeiro censo realizado em Senador Canedo, em 1991, as mulheres somavam cerca de 11,8 mil habitantes, o equivalente a 49,24% dos então 23,9 mil moradores do recém-emancipado município metropolitano. No censo de 2000, as canedenses aumentaram para 26,5 mil, compondo 49,93% da população total de 53,1 mil residentes. Em 2010, entre os 84,4 mil cidadãos canedenses, elas eram 42,2 mil, 50,01% do total. E agora, com o censo iniciado em 2022 prestes a finalizar, elas são 76 mil, cerca de 50,33% da população local e, numericamente, pouco mais de mil habitantes em relação aos homens. Tem mais: o Ministério da Saúde mostrou que, no ano passado, metade dos 2 mil nascimentos computados em Canedo foi de meninas. Elas também são maioria na hora de exercer o direto sagrado da escolha: dos 84,7 mil eleitores de Senador Canedo devidamente registrados como aptos junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 44,5 mil são do sexo feminino, de maneira que elas representam 52,62% do eleitorado e estão em vantagem de 4,5 mil votantes a mais que eles. Também são maior número nas escolas de educação básica, nas instituições de ensino superior e são mais “estudadas”, ou melhor, escolarizadas, conforme demonstram os números mais recentes do Ministério da Educação (MEC). É um balanço esplêndido em favor delas, que, no entanto, não tem sido revertido política e socialmente a seu favor. Basta olhar ao redor, nos espaços de poder público, para ver como elas estão “de fora”. Na Câmara de Senador Canedo, por exemplo, dos 15 parlamentares eleitos, apenas uma veste saia. Isso, por tabela, reflete na ausência de políticas públicas voltadas a elas. E é simples verificar: ao puxar os números da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, visualiza-se números vergonhosos, em que, dos 20,5 mil postos de trabalho formais de Senador Canedo, apenas 8,5 mil (41,37%) são ocupados por mulheres. Para piorar, enquanto a média salarial mensal do trabalhador do sexo masculino canedense é de R$ 2.841, a do trabalhador do sexo feminino na mesma função é de R$ 2.560. Sim: um empregado homem ganha em média 10% que uma mulher, em Senador Canedo, para fazer exatamente as mesmas coisas. Para mudar essa realidade, de exclusão das mulheres das áreas onde justamente deveriam estar — no mercado de trabalho, na política, nos espaços de decisão e poder, por serem maioria —, é necessário que elas despertem, unam-se e se mobilizem. Um exemplo do pontapé dessa marcha, que rompe com o comodismo secular, vem sendo protagonizado pelo Coletivo das Mulheres que Semeiam o Futuro, puxado pela jornalista Elisabete Teles, presidente da entidade. Com uma rotina de feiras e eventos nos quatro cantos de Canedo, bem como a consolidação de parcerias políticas extralocais, o Coletivo vem arrebanhando centenas de mulheres por onde passa e mostrando que o poder está com elas e precisa ser exercido. É um trabalho desafiador, construído a duras penas, de mãos dadas entre elas e sem auxílio financeiro do poder público, mas que tem despertado o olhar de lideranças do executivo e legislativo em nível estadual, além de angariar parcerias importantes e de resplendor nacional, como a respeitada Central Única de Favelas (Cufa). Sozinho, o Coletivo das Mulheres que Semeiam o Futuro dificilmente conseguirá reverter a dinâmica de alijamento socioeconômico, em que a mulher canedense fica para trás nos quesitos oportunidade e rendimento. Todavia, em parceria com a sociedade, a entidade certamente conseguirá chamar a atenção do poder público para o fato de que a mulher precisa de muito mais que migalhas ou sobras. Em Senador Canedo, as mulheres não têm uma secretaria específica para cuidar de políticas e temas de interesse delas. Também não dispõem de uma procuradoria engajada em suas pautas e lutas, como já há nos municípios mais desenvolvidos do país. Por conseguinte, na ausência do básico, o município convive com um histórico de 75 mulheres que, nos últimos dez anos, foram parar na emergência da rede pública de saúde por terem sido vítimas de agressão, de acordo com o Ministério da Saúde. A rede de proteção é tacanha e parece viver completamente alheia a um município que está entre os cinco que mais arrecadam em Goiás — só superado, nesse quesito, por Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis e Rio Verde. A título de curiosidade, a receita líquida de Canedo em 2022, já feitas as deduções legais, alcançou R$ 701,99 milhões, conforme reportou a prefeitura local em prestação de contas aos órgãos de controle externo. Os recursos entram, as políticas públicas para a mulher se escondem, e o Coletivo das Mulheres que Semeiam o Futuro emerge forte e demonstrando que é, sim, possível fazer a diferença em sociedades machistas e patriarcais, onde o homem ainda é quem “manda” — e obedece quem tem juízo. Deveras, o Coletivo é, ainda, apenas um grão de areia em meio a um mar de mulheres que são e estão sedentas por oportunidades e talvez nem se deem conta. Portanto, mulheres, mobilizai-vos! A vossa hora está chegando para ocupar os inúmeros espaços de poder que logo mais vão estar disponíveis para disputa na cobiçada Senador Canedo. Com foco, união, disciplina e determinação, cada uma de vós fará a diferença na terra dos manjados, dos alijamentos e das desconfianças. O Coletivo está chegando, e ninguém pode deixar o bonde da mudança passar. A bola da vez está convosco.
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