Vivemos em uma sociedade onde somos bombardeadas a todo momento pelos canais midiáticos com apelos insistentes de boas práticas para se ter uma boa saúde e vida saudável. E isso não é só marketing, mas também uma recomendação da OMS, que nos esclarece a respeito da importância de se ter uma qualidade de vida que é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Envolve o bem estar espiritual, físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e, também, saúde, educação, habitação saneamento básico e outras circunstâncias da vida”. Portanto, estamos falando de uma recomendação que deveria alcançar todas as pessoas da sociedade, porém, grande parte não se sentem incluídas nessas práticas de promoção de saúde.
Se fizermos uma breve reflexão sobre os espaços utilizados para promover essas boas práticas, temos como exemplo as academias de ginasticas, sim, espaços que estão abarrotados de pessoas buscando alcançar os ditos corpos malhados e perfeitos, que são ofertados em propagandas direcionadas e bem produzidas com imagens de corpos esbeltos sem nenhuma gordurinha para que acreditemos que é possível conquistar esse corpo perfeito, com visitas frequentes monitoradas por um personal trainer. Também podemos falar das iniciativas que a prefeitura através das academias ao ar livre construídas e adaptadas nos parques e praças da cidade de Goiânia, que a cada dia cresce mais, já que, a proposta é que todos tenham uma vida saudável. Mais a pergunta que não cala é. Porque não encontramos com frequência pessoas com corpos gordos, se exercitando, dançando zumba, se alongando e realizando todas outras atividades ofertadas nesses espaços, com suas roupas de ginastica, calças justas, tops curtos, com seus braços gordos e flácidos a mostra, a famosa barriga de fora?
E quando falamos de pessoas gordas, não estamos nos referindo as ditas acima do peso, acima de uma marca, o IMC (índice de massa corporal) mais sim, aquelas que realmente são obesas, que além de estar acima dessa marca, também tem um manequim que vai do 48 ao 60. E aqui me refiro principalmente as mulheres que se enquadram nesse grupo. Portanto, precisamos nos questionar, já que, saúde é para todos, e todos necessitam se exercitar e ter boas práticas para vivenciar uma vida saudável, pois de acordo com o IBGE, 62,6%, das mulheres no Brasil, estão obesas. então, precisamos entender a pouca procura e utilização desses espaços por essas pessoas. Será que é porque não desejam essa tão ofertada vida saudável? Não almejam o corpo perfeito? Estão satisfeitos com os corpos que tem? Ou será que esses ambientes não são tão acolhedores para essas pessoas gordas e acabam oprimindo a ponto de não ser atrativo como é para as outras pessoas que estão dentro do padrão de peso aceitável? Se continuarmos a refletir vamos chegar na conclusão de que a sociedade tem um olhar diferente para com essa pessoa gorda, sim, um olhar que não inclui, mais que faz com que essa parcela da sociedade fique no lugar que lhe cabe, a invisibilidade, ou nas sombras, pois, é melhor para todos, haja vista, que não queremos esbarrar nesses copos grandes e totalmente fora do peso padrão ou do IMC, determinado.
A invisibilidade da pessoa gorda se da por meio do olhar gordofobico social, que nada mais é, do que aversão a pessoas com o corpo gordo. Aversão a gordura. A gordofobia é o preconceito em relação a pessoas gordas, devido um padrão de beleza imposto pela sociedade, em que o corpo ideal e perfeito é alto, sem celulite, magro tipo manequim 36 e ou aceitável 38, e sem celulites. As pessoas que praticam a gordofobia, tem um comportamento de julgamento em relação a pessoas que estão fora do peso padrão ditado pela sociedade, criticando-as, ridicularizando-as e fazendo com que se sintam anormais e excluídas mesmo sem ter essa consciência. Podemos também trazer outra pratica gordofobica que é muito comum e que atinge de forma muito severa a vida dessas pessoas, pois vem de um profissional que procuramos para sanar nossas dificuldades de saúde, e aí, por vezes, conseguem nos oprimir apenas por sermos pessoas gordas sem nenhuma prova a princípio. Estou falando da gordofobia medica que se caracteriza pelo princípio de que as pessoas que estão acima do peso padrão tem problemas de saúde, sem sequer conhecer o estilo de vida da pessoa ou sem ter conhecimento acerca dos exames médicos ou do seu histórico de saúde. Não é apologia a gordura, mas precisamos entender que nem toda pessoa magra tem saúde ou ao contrário, nem toda pessoa gorda é doente. Portanto, não podemos marcar as pessoas apenas pelo peso, mais compreender que somos pessoas com características diferentes, com vontades diferentes, com expectativas distintas, almejamos coisas totalmente opostas e temos que ser respeitados.
As mulheres no geral são as que mais sofrem com esses ataques gordofobicos, onde as impedem de ter uma vida plena, pois, são muitas as cobranças dessa sociedade excludente e opressora. Somos atacadas a todos os momentos pelas mídias, por pessoas próximas, nossas famílias, nossos companheiros, pelos padrões de moda e de todos os tipos de condutas de perfeição que precisamos ter. Se o direcionamento é ter uma vida saudável através das diversas práticas de promoção de saúde, e saúde é para todos, é urgente que seja reprogramada as formas como são pensadas as matérias de propaganda e divulgação em prol de uma vida saudável. Se faz necessária que se desconstrua o olhar excludente social em relação a pessoa gorda, a partir de mídias inclusivas, onde corpos gordos também tenham visibilidade buscando assim, uma maior aceitação e incluindo nesses espaços pouco frequentados por pessoas gordas, uma grande parcela da sociedade que precisam ser respeitadas por serem cidadãs de direito. E você mulher que está acima do peso padrão saia das sombras, se descubra a mulher incrível, única, belíssima com curvas arredondadas, bumbum avantajado, seios fartos e coxas macias. Sim, com celulite, estrias, barriga acentuada. Saiba que cada marca no seu corpo é uma linha escrita da sua história fantástica. Valorize a mulher que você se tornou, mesmo com todas as dores, pois foram elas que te fizeram ser tão extraordinária. Somos mulheres gordas, somos mulheres grandiosas e podemos ser felizes com o corpo que temos. E você sociedade precisa se posicionar contra todo o tipo de preconceito. Somos grandiosas demais para nos esconder.
Por Zenit Vaz: Mulher gorda, mãe solo, evangélica, periférica, ativista social dos direitos humanos, assistente social, modelo plus size e idealizadora do Projeto Mulheres Grandiosas.